[RP] An Unexpected Visitor [RP]

We must take care of our shells
Innocent girl, your life boring
When I find a shell, say to be his house in which dwells... And if you drop it, it will be in pieces on the beach sand... What a pity.

Era um dia quente e abafado, como todos os outros são. Passava o tempo sentada numa cadeira velha, feita de madeira, alias, era mais velha que eu e ainda aguentava firme e forte. Ao meu lado, uma mesa pequena e redonda, acima tinha uma taça com limonada, ao lado da mesa estava uma das minhas amas, segurando uma jarra que continha mais limonada. Estava uma delícia, refrescava minha garganta. — Obrigado por ter feito uma bebida para me refrescar, Reiva. - disse olhando-a por alguns segundos. — Choveu a duas semanas atrás... Precisamos nos hidratar. - ela pareceu que iria proferir algumas palavras.

— É uma honra milady. - disse com aquele tom de voz rouco, ela estava debaixo daquele sol ardente, expondo sua pele velha e frágil.

— Sirva-se um pouco. - ergui a taça para que ela pegasse, mas negou. — Então pelo menos saia deste sol, irá te fazer mal.

— Estou bem, milady. - por fim aceitei suas palavras, e prensei os dedos dos pés na areia fofa. Corri o olhar para o mar que possuía uma cor próxima a um verde claro, acabei imaginando meu irmão, ele sempre brinca no mar, jogando a água do mesmo para todos os lados, e sempre com um sorriso alegre no rosto. Eu sorri ao imaginar esta cena.

Era comum encontrar navios desembarcando no cais, sempre trazendo coisas do continente, as vezes frutas ou outras coisas importantes, e não era diferente desta vez. — Mais um navio. - Reiva disse após sua observação. — Este é maior, talvez esteja trazendo estrangeiros.

— Que faz as pessoas imaginarem que este é um bom lugar para se visitar? - perguntei inconformada, não fazia sentido, mesmo assim a ama riu.

— Visitar? Milady, muitas vezes estes estrangeiros fogem do continente pois algo complicado pode estar acontecendo lá. Para essas pessoas, o mundo não é um mar de flores. - fiquei imaginando que realmente ela poderia estar realmente certa, imaginei que talvez minha mãe cuidasse de assuntos que ajudasse essas pessoas, ou não. Ela poderia estar apenas cuidando de assuntos diplomáticos e se preocupando com a própria vida, sendo assim, esquecendo o que aconteceu no passado. 

Merida of house Tyrell

O vento soprava de leste, era suave e quente. O cheiro da maresia se espalhava por todo o barco que balançava sobre as águas tranquilas. Fazia uma semana que viajava em direção a Derivamarca, um pequeno desvio no meu caminho. Eu necessitava de sair de Westeros por uns tempos antes de retomar meu caminho em direção à muralha. Muitas eram as vezes que eu me questionava sobre esse plano. Não seria melhor retornar a Campina? Ou viajar para uma das cidades livres? Quem sabe Essos.
Segurei meu vestido com ambas as mãos e desci as escadas até o convés. Os marinheiros se movimentavam de um lado para o outro, parecendo nem notar a minha presença. Eu preferia assim. Ultimamente eu me tornara muito solitária, perdendo quase minhas habilidades sociais. Sentia satisfação quando os outros evitam falar comigo. Eles não procuravam respostas para suas perguntas, simplesmente me tratavam como outra pessoa qualquer. Não posso dizer que ali me sentia em casa pois estaria mentindo. Sentia falta de uma cama confortável, de comida decente, mas esse era o preço a pagar.
Outra das hipóteses seria desistir. Desistir de todos os planos e estratégias, desistir de uma vida em fuga e receber de braços abertos o que o destino me reservava. Porém eu era teimosa, iria continuar fugindo até que as tropas de qualquer casa me prendessem. Algum dia isso terá que acabar não é verdade?
Me debrucei observando o mar, fechando em seguida os olhos para sentir a brisa no rosto e desejei poder congelar para sempre aquele momento. Uma coisa tão simples como o mar colocara um sorriso no meu rosto e minha atenção apenas foi tomada quando o capitão anunciou nossa chegada a Derivamarca.
Me preparei para abandonar o navio e observei um ajuntamento de pessoas nas docas, tentando ver quem eram aqueles visitantes. Certamente não me reconheceriam e caso reconhecessem, eu já nem me importava. Deixaria o destino as mãos dos sete, eles que cuidassem de mim porque eu estava cansada de cuidar.
Iniciei meu percurso pelas ruas da ilha, passando por um pequeno mercado onde se vendia de tudo um pouco. As pessoas me olhavam como uma intrusa porém não deixavam de ser amáveis. Uma velha me chamou para ver as coroas de flores que vendia. Uma em especial chamou minha atenção, era bem simples, ornamentada com algumas flores brancas. A velha sorriu e colocou a coroa na minha cabeça sem falar uma única palavra. Ela me olhou por algum tempo e logo voltou ao seu trabalho, ignorando minha presença. Eu retomei o meu caminho, acabando de novo na praia. Aquela ilha era um pouco estranha, havia algo de diferente ali, algo inexplicável. Ou então eu estava sendo tonta novamente.  Os meus pés pisaram a areia quente e pelo canto do olho observei duas pessoas naquele local. Estavam ainda um pouco longe mas pareciam distraídas com alguma coisa. Finalmente a água tocou meus pés e um arrepio percorreu minha espinha. Mais uma vez eu segurei o vestido para que não se molhasse e deixei que a água tocasse a minha pele.

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Fechei os olhos, e meus ouvidos deram atenção para o som das ondas se formando, e se quebrando... Soltei um leve riso e encarei Reiva, que sorrira também. Embora minha situação não seja uma das melhores, eu estava em paz naquele momento, sem discussões para ouvir ou gritos vindo das reuniões que minha mãe faz. Ela precisa relaxar, eu suponho. Que se junte a mim e sinta este calor que mesmo prejudicial a saúde, era bom de vez em quando... Uma figura projetou-se na minha frente e tampou o sol, fazendo com que meus olhos se irritassem um pouco. Era um dos guardas da minha mãe, vestido com pouco ferro... O calor não era fácil para ninguém.

— Lady Maeghan, sua mãe, Lady Aelys, solicita a presença da Ama Reiva em seus aposentos. - assenti com a cabeça e sorri para Reiva, que retribuiu e seguiu atrás do guarda, subindo a escada que leva ao castelo. Me ajeitei na cadeira e olhei em volta... Alguém estava se aproximando, parecia ser uma moça por conta do vestido, ela olhava para cá como se estivesse perdida, então decidi me levantar e cumprimentá-la.

Em passos lentos, me aproximava da garota que agora não estava tão distante. — Olá! - exclamei. — Precisa de ajuda? - disse por fim, observando a garota. 

Merida of house Tyrell

Não havia nada ali, apenas eu, o mar e a brisa. Por momentos esqueci as outras pessoas e apreciei a tranquilidade que eu sentia ali naquela praia. Aquele local era diferente da Campina. O castelo se estendia por um enorme rochedo de uma forma estranha, se debruçando sobre um local onde o mar aparentava ser um pouco mais violento. A velha Morgan havia me contado histórias sobre a ilha localizada junto de Pedra do Dragão mas nenhuma fazia jus à realidade.
Uma voz feminina me despertou desses pensamentos e me obrigou a levar a mão ao peito após o pequeno susto. Eu olhei a garota com espanto, observando ela rapidamente. - Olá. - eu respondi com um leve sorriso. - Ah eu estou só dando uma volta, acabei de chegar aqui.
Ela era de família nobre com certeza, uma Velaryon talvez. Era esse o nome? Eu acho que sim... Eu fiquei olhando em volta sem saber mais o que dizer, não queria fazer muitas perguntas. - Qual o seu nome? - perguntei após alguma hesitação.

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A moça pareceu demonstrar uma expressão de espanto, ela ouviu minhas palavras e rapidamente direcionou seu olhar para mim e respondeu o meu chamado... Talvez ela fosse uma das pessoas que desembarcara na ilha, e parecia estar aproveitando a praia. Foi gentil ao esboçar um leve sorriso e perguntar meu nome, sem exitar, disse:

— Sou Maeghan... Bem, Maeghan da Casa Velaryon. - disse e dei um leve sorriso. — Pode me chamar de Maeghan se quiser. - esperei que dissesse algo e parei para observá-la. Tinha os cabelos meio que dourados, e uma pele clara... Um vestido com um tecido que aparentava não ser da região, então, eu suponho que ela fosse do continente, de algum canto do oeste. — Desculpe perguntar mas, qual é o seu nome? - disse ao dar poucos passos diante a moça.
 

Merida of house Tyrell

Minhas suspeitas se confirmaram assim que a garota se apresentou. Ela era uma Velaryon, vassala dos Baratheon. Sua pele era clara assim como seus cabelos, mas não tão claros como os dos Targaryen. Ela aparentava ser bastante jovem, era mais baixa que eu e tinha uns grandes olhos azuis. - Sou Merida. - me apresentei sorrindo-lhe novamente, tentando lhe mostrar que eu não representava uma ameaça para ela. Eu não estava ali para machucar ninguém muito menos planejar qualquer ataque à ilha. Eu vinha em paz, como era habitual. - É a primeira vez que venho aqui. É um local estranho. - eu disse tentando fazer conversa. - Mas estranho no sentido positivo claro. É diferente.
Olhava em volta enquanto falava, passando os olhos sobre a enorme fortaleza, a praia, o mercado ao longe, e o mar ali tão perto. - Você tem sorte de viver tão perto do mar.
A praia tinha realmente o seu quê de beleza, as rochas davam um ar misterioso ao local, místico até. Por momentos pensei nos antigos ritos que com certeza já deveriam ter sido praticados ali.  

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Merida, este era seu nome. Ela rodeava os olhos enquanto falava, observando a paisagem e elogiando a mesma, parecia estar encantada com o que via, fazendo com que as suspeitas dela ser do Oeste aumentassem cada vez mais... Talvez ela tenha vindo de um lugar frio, como o lar dos Stark, mas não tinha certeza. Ela era muito bonita, e aparentava ser alguns anos mais velha que eu, talvez possuísse uma experiência maior sobre o mundo, e se caso ela estivesse vindo do Oeste, ela poderia me ajudar... Embora não fosse o melhor lugar do mundo, estava farta de ficar presa nesta ilha.

— Isso para mim não é sorte. Se vivesse aqui entenderia que, ficar presa neste lugar, sem poder sair e conhecer o mundo, ficaria entediada. - disse e suspirei olhando para os céus. — Está quente, venha! - disse pegando em sua mão e puxando-a em direção a escada, ignorando qualquer que seja suas palavras. — Não se preocupe, minha mãe não irá brigar.

Conversávamos enquanto subíamos a escada que não parecia ter fim. Aquilo cansava facilmente os pulmões, talvez fosse para testar a força dos Velaryon ou qualquer um que ousasse subi-la. Eu cumprimentava alguns guardas que conhecia desde criança e que eram muito próximos de meu pai, eles sabiam que não deviam temer a mulher ao meu lado, pois todos que me acompanham não devem ser temidos.

Passamos pela ponte e em seguida entramos no hall, com certeza ela iria notar as estatuas de dragão num dos arcos e colunas dali... Talvez ela se assustasse com os mesmos, mas faz parte da história da minha família, então no caso... Eu já estava acostumada. Ficamos ali, precisava saber se minha mãe estivesse por perto, não sabia se ela iria reclamar da presença de Merida. 

Merida of house Tyrell

A garotinha parecia detestar aquele local. Por um lado eu entendia, ela deveria ter passado toda a sua vida aprisionada nessa ilha, com certeza nunca visitara o continente. Ela não sabia quanta sorte tinha por viver numa ilha afastada de todas as confusões. Ela via ali uma prisão, já eu, no seu lugar, via uma escapatória.
- O mundo lá fora é um perigo constante. - eu disse num tom de aviso. - Nunca esteve no continente pois não?
Maeghan parecia ser uma garota inocente e bastante protegida até. Certamente seus pais nunca a haviam deixado sair de Derivamarca.
Eu a segui até o castelo, atravessando a ponte e vislumbrando alguns guardas que nos olhavam de mão já na espada. Maeghan pareceu acalmá-los e eles logo fizeram uma vénia à nossa passagem. Os guardas de Jardim de Cima reagiam exatamente do mesmo jeito. Eles eram educados e famosos por suas cortesias, o verdadeiro ideal cavalheiresco vinha de Campina. Eu conversava com a garota animadamente, enquanto subíamos a longa escada.
O interior do castelo estava decorado com elegantes tapeçarias, grandes quadros de paisagens e personalidades históricas. No hall se destacavam várias estátuas de dragão e eu sorri ao observá-las. - Você só vive com sua mãe? - eu perguntei, imediatamente me arrependendo pois poderia estar a tocar um assunto mais delicado. - Se ela brigar eu posso ir embora! Não quero que você tenha problemas com ela por minha causa.
A garota estava sendo muito amável comigo, arranjar problemas para ela era a última coisa que eu queria.

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Enquanto Merida dizia uma coisa, eu dizia o contrário, certamente eu sabia que isso era para a minha proteção, mas... Isso faz chegar a uma hora, que cansa! Sempre tive a vontade de visitar o continente, e ver como as pessoas de lá são, mesmo sendo um perigo, eu queria viver, queria aprender. — Não, nunca visitei o continente. Deve haver lugares diferentes em cada canto do mesmo... - disse imaginando a neve e as flores da primavera que lá certamente existiam.

Me perguntava se minha mãe gostaria da presença da moça, uma estrangeira... Que ao meu ver, não parecia querer nos fazer mal. Me parecia, que queria explorar o mundo, conhecer coisas novas... Talvez tivéssemos isso em comum, ou não, eu não a conheço bem, mas sei que ela não é uma ameaça para ninguém daqui. Ela observava o hall, minha impressão fosse de que ficasse assustada, penso que não exista este tipo de decoração e arquitetura no continente, mesmo assim, ela ficou deslumbrada, o que me impressionou. Dirigiu um olhar de curiosidade para mim e perguntou:

"— Você só vive com sua mãe?" - perguntou, mas em seguida pareceu querer não dizer aquilo. Assenti negativamente com a cabeça, que não era apenas eu e minha mãe que vivíamos neste castelo. Logo depois expressou que não queria causar problemas, certamente, minha mãe não era uma pessoa que se engolia facilmente, mas como disse antes, a moça parecia vir em paz, e neste caso, não haveria problema... Imagino que com sua recém chegada, ela precisaria de um lugar para ficar, se acomodar e se acostumar com o clima e região... Eu poderia apresentar-lhe alguns lugares da ilha, poderíamos ir ver os golfinhos e nos entretermos com outras atividades.

— Merida, não há com o que se preocupar! Se houver algum problema, deixe que eu dou um jeito. Minha mãe não irá brigar. - disse na tentativa de confortá-la mais e passar que este, era um dos lugares mais seguros e protegidos que poderia estar. — E de certa forma, os dragões não mordem. - disse em relação as estatuas, e dei um leve riso.

Pedi para que me acompanhasse, passamos por alguns corredores do castelo, fazendo com que passássemos perto da sala da sala de reuniões de minha mãe... A qual estava silenciosa, estanho, geralmente esta repleta de discussões e gritaria, mas não hoje. Talvez ela estivesse em outro lugar, ou fazendo algo com que a acalmasse. Continuei com os passos acelerados, até que chegássemos ao meu quarto, eu abri a porta e dei passagem para que Merida entrasse, dei uma ultima espiada por fora e entrei no quarto fechando a porta.

— Bem, sinta-se a vontade... - disse, e por um instante lembrei-me de meu irmão que poderia ter acordado de seu soninho da tarde, e que provavelmente estaria aprontando alguma. — Droga! Esqueci do meu irmão. Ele já deve ter acordado. Merida, espere só um instante que eu vou checar se ele realmente acordou, ele é muito bagunceiro. - disse e sorri, deixando Merida no quarto e saindo do mesmo.
 

Merida of house Tyrell

Era uma pena que ela nunca tivesse visitado o continente. Apesar de todos os perigos, era um território bastante diversificado e bonito. Campina era sem dúvida um dos locais mais bonitos de Westeros. As grandes florestas cobriam quase todo o território e o castelo parecia saído de um dos contos de fadas que a velha Morgan contava. Quando eu era pequena acreditava em todas essas histórias, que um dia encontraria um príncipe e me casaria com ele. Eu era patética na altura, pessoas assim não existem. Aliás, histórias assim não passam disso mesmo, histórias.
- Ah eu não tenho medo dos dragões. - disse dando uma risada. Como eu poderia ter medo de algo que eu nunca tinha visto? Olhei de novo as estátuas e percebi que elas não me assustavam, pelo contrário me fascinavam bastante.
Voltei a caminhar do seu lado atrevendo-me a olhar em volta e observar o local. Vários quadros decoravam as paredes assim como figuras de cavaleiros. Maeghan acelerou o paço e eu fiz um esforço para a acompanhar apesar do cansaço, entrando no seu quarto quando ela me deu passagem.
Era um espaço bonito, tipicamente decorado para uma moça da idade dela. Num dos cantos estava pendurado um vestido azul muito bonito que combinaria certamente com os cabelos de Maeghan. - Obrigada. - agradeci quando ela me permitiu ficar à vontade no seu quarto. Eu me sentei numa cadeira, recostando minhas costas um pouco doridas da viagem de barco. Olhei uma mesa ali próxima e observei um livro de capa elegantemente decorada. - Tenho esse livro também. - disse dando um leve sorriso.
A garota me informou que se esquecera do seu irmão que, pelos vistos, estaria dormindo e saiu do quarto rapidamente.
Eu me lembrei do meu próprio irmão, gêmeo. Não havíamos crescido juntos, não tínhamos uma ligação forte de irmãos como provavelmente Meaghan e o garotinho teriam, mas gostávamos muito um do outro. Me permiti a levantar e vaguear pelo quarto, indo até a varanda e observando a vista. Lá em baixo alguns cavaleiros treinavam arduamente. Com o cotovelo apoiado na pedra da varanda e o queixo apoiado na mão, fiquei observando os homens lutando uns contra os outros, gritando palavras de fúria e ao mesmo tempo incentivo.

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O destino era o quarto de meu irmão, que não era muito longe do meu e também não muito impressionante. Sabíamos que o pequeno cresceria num piscar de olhos, e com certeza, não gostaria de ver as paredes decoradas com dragões azuis acima do peso, e desenhos de cavalos da raça Andaluz cavalgando nas mesmas. A porta estava entreaberta, encostei meu rosto na mesma e pude enxergar a ama Reiva recitando um poema de aventura, sentada numa cadeira que parecia ser confortável, e ao lado com certeza estaria meu irmão, deitado em sua cama. Eu sorri, e me afastei.

No caminho de volta para meu quarto, solicitei a uma das criadas em passagem que preparasse o quarto de hospedes. Queria que Merida fosse bem recebida, e que não tivesse uma má impressão de mim, de nós... Penso que teria que falar com a minha mãe, e Merida teria de ser apresentada... Imagino que ela sinta um certo receio em deixar uma estranha viver no castelo, ainda mais uma pessoa do continente, mas eu sinto que ela é confiável e que não nos faria mal nenhum, acho que não traria um exército inteiro pra cá. Devo falar com ela, convidá-la para ficar aqui até que se estabeleça.

Entrei no meu quarto, e de longe vejo Merida na varanda. Eu me junto a ela e observo os cavaleiros treinando no solo. — É um mundo dos homens. - disse em meia observação, e imaginei que um dia meu irmão estaria assim. — Tem irmãos, Merida? - perguntei. Eu queria uma resposta, mas não queria uma resposta forçada, ou uma mentira.

Merida of house Tyrell

Os homens continuavam lutando afincadamente, como se as suas vidas dependessem de cada gesto que executavam. O som do aço ecoava pelo pátio que se estendia lá em baixo e algumas pessoas se acercavam agora dos cavaleiros para verem melhor a luta. Eu não conseguia ver o rosto deles mas os imaginava bonitos, de sorriso contagiante e olhos que perfuravam a carne. Apesar de não ter passado muito tempo em Jardim de Cima, este fora suficiente para conhecer alguns dos cavaleiros. Eram extremamente delicados e respeitadores, mas ferozes e destemidos como seria esperado.
A luta terminara sem que eu notasse e o pequeno grupo de espectadores dissipava-se lentamente, regressando às suas tarefas. Os dois cavaleiros removeram os elmos e eu pude finalmente observar os seus rostos. Um era loiro, o outro tinha cabelo castanho, diferentes mas de certo modo iguais. Me perguntei se deveria aplaudir como as outras pessoas, mas para quê? Eu estava no topo da varanda, ninguém iria ouvir, sequer notar minha presença. Pousei as duas mãos sobre o muro da varanda e desviei o rosto ao sentir-me observada. Afinal minha presença havia sido notada, não sabia se isso seria bom ou mau, provavelmente iria levantar questões e trazer problemas para Maeghan.
Me fingi distraída observando algo para além das muralhas, evitando cruzar o olhar com os cavaleiros, até que minha anfitriã regressou. - Um mundo violento. - lhe respondi. - Muitos dizem que não foi feito para as mulheres. Olhei a garota do meu lado e sorri ligeiramente. - Eu discordo.
Tudo bem que muitas das vezes eu me mostrava valente e corajosa mas por dentro tremia que nem uma cana de bambu. Mas assim como a cana de bambu eu era difícil de quebrar. Eu achava que conseguia resolver os problemas como os homens, que as mulheres deveriam ser iguais a eles mas no fundo eu sabia que sempre existiriam diferenças, algumas que eram úteis até.
Maeghan me perguntou se eu tinha irmãos. Ah meu irmão. Eu sentia saudades dele, mais do que eu achava que sentiria, e apesar de não nos conhecermos desde sempre, éramos do mesmo sangue.
- Tenho. - eu comecei por dizer. - Um irmão gêmeo. É o homem mais nobre que eu alguma vez conheci, não que eu tenha conhecido muitos. Não o vejo faz algum tempo, mas tenho esperança de que nos voltaremos a encontrar em breve.
Eu falava com um ar um pouco distante mas isso porque tentava visualizar a figura de meu irmão na minha mente. Temia esquecer o rosto dele, assim como de todas as outras pessoas com quem eu tinha afinidade.
- Eles treinam todos os dias? - perguntei me referindo aos cavaleiros que ainda se encontravam no pátio, nos observando discretamente.

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Merida respondia todas as minhas perguntas enquanto eu a observava profundamente, ela estava falando de seu irmão gêmeo, abrindo a privacidade familiar e compartilhando seus pensamentos. Eu virei o olhar para os cavaleiros no solo, bonitos e fortes por sinal, estavam muito longe para que eu talvez pudesse reconhecê-los, ou então seria inútil, o único lugar que vou com frequência além dos corredores do castelo, é a praia. Eles estavam nos observando discretamente, era difícil distinguir se realmente eram cavaleiros, daqueles que respeitam uma dama e não soltam certas palavras da boca pra fora.

"— Eles treinam todos os dias?" - ela perguntou e eu dei um sorriso de lado.

— Sim. É uma exigência a parte de minha mãe... Ela quer que a ilha esteja segura. - disse explicando o porque do treinamento ser realizado arduamente. — Eu não consigo imaginar esta ilha sendo atacada, não sei se estaríamos preparados. - disse e suspirei. — Mas... Temos que dar o nosso melhor para proteger Lucaerys, ele ainda é muito pequeno e meu pai não está mais aqui para nos proteger.

Voltei para dentro do quarto, esperando com que Merida se manisfestasse de alguma forma. E a questão dela se estabelecer em Derivamarca voltou a pipocar na minha cabeça, eu já tinha feito o pedido para que cuidassem de sua acomodação no castelo, e então não queria que minha mãe fizesse de desfeita com a moça... Merida é tão gentil.

— Desculpe interrompê-la, mas você tem algum lugar para ficar? - disse mudando de assunto. — Digo, você chegou aqui a algumas horas, penso que ainda não tenha um lugar para ficar. Em Derivamarca as pensões são apenas para idosos... Seria um processo burocrático para que registrasse uma residência aqui, já que é uma estrangeira. Nesse caso, você é bem-vinda no castelo. - disse por fim.